Treino das Fáscias e Tensegridade Funcional

Voltar a ser natural requer um adaptação, e senti isso no meu próprio corpo, acostumado com o outros tipos de estímulos: flexibilidade, força isométrica, permanência nas posturas – por muitos anos o yoga foi a principal forma de me movimentar.

Voltar  a saltar, correr, escalar, cair, brincar me fez compreender que embora eu tenha uma vida ativa e saudável, meu corpo havia perdido a capacidade natural e funcional  de se movimentar como um ser humano. Muita força periférica, pouca eficiência, muito controle, muita rigidez e pouco ritmo. O  corpo precisa reaprender o caminho de mover-se integralmente, como um todo.

No XIX Congresso de Treinamento Funcional, entrei em contato com o  Treinamento das Fáscias na palestra do alemão Markus Rossmann, e percebi a conexão entre o treino natural e o tecido miofascial. Ao final da palestra, conclui que este campo, ainda pouco explorado pela ciência, poderia expandir minha visão sobre a integralidade dos movimentos.

Me encantei, e no dia seguinte participei do primeiro workshop do Markus ministrado sobre treinamento fascial(fascial fitness) e caminhada fascial (fascial walk) no Brasil. Em seguida, passei a realizar sessões com uma das maiores autoridades de movimento fascial do país, Johannes Carl Freiberg, que é educador físico, rolfista e idealizador do programa”Tensegridade Funcional”, que une seu conhecimento terapêutico e do treinamento fascial no treinamento físico.

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Segundo ele : “A Tensigridade Funcional é a afirmação do corpo como uma unidade funcional. O corpo vivo é compreendido através de seu estado metaestável, um estado entre a estabilidade e a instabilidade e trabalha com a ideia que o corpo mantém sua integridade funcional quando ele consegue modular uma resposta, modificando sua forma e acumulando energia cinética como adaptação ao stress tensional. Seu alvo de trabalho principal é o tecido conjuntivo fascial – uma extensa rede de tecido fibroso colagenoso que produz um senso de unidade entre os vários segmentos do corpo, funcionando como um coordenador dos componentes motores, unindo-os por cadeias miofaciais omnidirecionalmente. Assim, a Tensigridade Funcional envolve a noção, de que o continuum do corpo é um todo sustentado pela atividade dinâmica tensional do tecido conjuntivo e suas características de elasticidade e resiliência.”

Afinal, o que são as fáscias? “A fascia esta definida como todo o tecido conectivo fibroso de colágeno que pode ser entendido como “elemento” da network tensional que se estende por todo o corpo . Ela é uma banda de tecido, uma rede tensional única, que liga o corpo da cabeça aos pés, da frente às costas, da pele ao interior do corpo. Ela mantém a integridade estrutural, oferece apoio e proteção, e age como um amortecedor. (Schleip, 2013).”

“Hoje, sabemos que boa parte das lesões de esporte ocorrem nos tecidos conjuntivos e não em músculos. Tendões, ligamentos, cápsulas. Assim, a rede fascial que é responsável pela manutenção da estrutura do corpo bem como de propagação e produção da força do corpo, deve ser atendida como parte dos trabalhos corporais.” Johannes.

Em outras palavras: é a partir das fáscias que o movimento se origina –  não nos músculos. Ela também te dá feedbacks sensoriais: se a atividade está sendo prazerosa ou dolorosa, e esta sensação se relaciona diretamente com a saúde músculo-esquelética e a longevidade funcional, nos  protegendo de lesões e até mesmo daquela sensação de quem já se esforçou demais e cria certo tipo de aversão à atividade física. Não sei se é possível descrever a dimensão desta descoberta  biomecânica, mas impactou profundamente minha visão sobre movimento e treinamento integral. Perfeitamente coerente com o nosso lema: “se não for divertido, não é sustentável.”

Gratidão professor Johannes!

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2 Responses

  1. Muito bom essse texto!!! Obrigada
    • Obrigada Letícia! :)