Esse é o pensamento comum no ocidente. A mente é algo sutil, profundo, elevado, a alma; o corpo, superficial, grosseiro, limitante, a carne. Nos identificamos com a mente: que pensa, que conhece, que entende. E vivemos alheios ao corpo que sente, que vibra, que expressa.
Se temos algum domínio sobre os movimentos, postura e gestos, não temos sobre as emoções, vontades e medos. E se tivéssemos domínio sobre os pensamentos, porque com eles desobedecem o querer? Porque surgem pensamentos indesejados, que mesmo quando afastados, retornam insistentemente?
Sábios da Índia dizem que a mente humana é como um macaco bêbado picado por um escorpião. “Macaco” porque é inquieta. “Bêbado”, pois está embriagada pelo desejo do prazer momentâneo. E “picado por um escorpião”, tentando se livrar da dor e sofrimento.
Ou seja, é possível confiar no condutor do seu veículo?
Há um equívoco primordial nessa concepção dualista. A mente não está somente dentro da cabeça, mas em todo corpo. Em cada célula, em cada gesto. Não existe essa relação de servidão, mas de sinergia e união. Somos cosmos, não caos.
A primeira atitude para reconhecermos nossa natureza integral é através do auto-conhecimento. Conhecer suas negações e seus desejos. “Desamortecer” os sentidos, ocupar o corpo e realizar até os mínimos movimentos conscientemente. Observar sentimentos, pensamentos e emoções. Querer impor ao a vontade de um sobre o outro (corpo X mente), aumenta a cisão interna e gera desequilíbrios físicos e emocionais. E talvez resulte no oposto do proposto, pela força da negação da inconsciência. Por exemplo, depois de uma dieta muito rígida e controlada, sem prazer, o indivíduo pode voltar a comer compulsivamente e engordar ainda mais.
Compreender o ser humano como unidade evita frustrações, Um programa de treinamento físico não é ser puramente mecânico, é um processo de transformação do indivíduo. Para obtenção de sucesso e satisfação, a unidade do ser deve estar totalmente envolvida: corpo que pensa e mente que dança.